Seja a pessoa que você sonhou um dia ser. Agora você pode.
Me lembro com clareza que contava os anos para a aposentadoria. Mas isso nunca foi um desejo solitário. Dentre os mais de 12 mil colegas de trabalho, "pendurar as chuteiras", sempre foi o sonho da maioria. Nesse contexto, sempre nos despedíamos com festas e lanchinhos comemorativos, placas de agradecimento e pequenos mimos para aqueles colegas que haviam completado sua jornada de mais de 30 anos de trabalho na empresa.
No entanto, o que mais me assustava era o grande percentual de óbitos entre os recém aposentados. Merecia um estudo específico de tão extraordinário. Não era incomum termos notícia de colegas que após um ano de aposentadoria da empresa, adoeciam rapidamente e partiam, deixando os ganhos, poupança e previdência privada de uma vida inteira para esposas e filhos. Eles sonhavam com os dias de folga, a cervejinha no bar com os amigos a qualquer hora, a sesta depois do almoço, ir ao supermercado no meio da manhã... no entanto, quando a hora chegou, não conseguiram usufruir do que prepararam tão diligentemente, por tanto tempo.
Quando minha vez chegou, também não foi como eu sonhava.
Além de uma grande queda nos ganhos mensais, a falta da convivência social, da objetividade do trabalho e da sensação de pertencimento me deixaram muito triste, quase depressiva. Eu procurei me organizar para este momento, mas se não houvesse o apoio da minha família e muita coisa para ocupar meus dias, teria sido muito difícil e poderia inclusive ter adoecido seriamente por isso.
Creio, baseada na minha própria vivência, que o não pertencimento causou o maior impacto, seguido da ausência de certas pessoas no meu cotidiano. O fluxo do trabalho diário cria em todos nós hábitos sutis que só percebemos quando nos aposentamos. Isso é mais forte em quem trabalhou por muito tempo no mesmo lugar, como foi o meu caso. E o impacto não é pequeno, pode acreditar.
Deixar de ser produtivo, de fazer parte da cadeia de vida e energia que faz o país funcionar, é uma despedida dolorosa, podem acreditar.
Ninguém pode viver de bares, festas, viagens e descanso todos os dias. O que era prazeroso vai se tornar um desalento e por fim, uma solidão.
As pessoas que se saem melhor são aquelas que continuam produtivas, criando formas novas e prazerosas de viver. São as que renovam seus círculos sociais, aprendem e desenvolvem novas habilidades e, principalmente, as pessoas que vivem perto de familiares queridos.
Nas empresas, principalmente nas empresas públicas que permitem que antigos empregados desliguem-se somente quando queiram, adoecem, ou são convidados por um desligamento voluntário incentivado, podemos encontrar pessoas com idade avançada ainda trabalhando.
Geralmente são pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas que não recomeçaram suas vidas por várias questões. Essas pessoas sem filhos ou netos são as que geralmente permanecem por muitos anos nas empresas aguardando a melhor condição financeira para descansarem. No fundo, para esse grupo em especial, fica mais difícil sair do ambiente empresarial, pois é de onde vem a maior parte de sua vida social e sua auto estima.

Certa vez, num shopping grande em Belo Horizonte, conheci uma senhorinha falante e alegre, que passava pelos corredores acenando para todos os seguranças, pessoal de limpeza e vendedoras. Olhei com curiosidade seu gesto simpático e comentei com a moça do quiosque em que eu tomava café. Ela me revelou então, que a senhora vinha todos os dias ao Shopping. Ela morava num edifício ao lado e ficava quase que o dia todo andando pelo lugar. Eu indaguei, por que motivo, ao que a vendedora me esclareceu que desde que ela se aposentou passou a ter medo de ficar em casa, morrer de repente e só ser achada muito depois. Ela vivia sozinha e não tinha parentes próximos.
Aquela senhorinha encontrou um outro ambiente para se relacionar, para não estar só. Embora seja de certo modo triste, vejo uma pessoa criando outros laços, não se entregando. A senhorinha, pelo que eu saiba, está viva e muito bem de saúde e continua andando pelos corredores do Shopping. As pessoas se preocupam com ela. Se ela some alguns dias, logo alguém vai ao prédio saber notícias.
Relacionamento. Esse é o segredo.
Quando paramos nosso cotidiano precisamos estabelecer outros relacionamentos, outros laços de trabalho, produtividade e até mesmo de afeto. Os amigos de todo dia serão ocasionais, mas não menos amigos. Os vizinhos que nunca víamos porque estávamos sempre correndo, tornar-se-ão próximos. Conheceremos suas histórias e mazelas.
As questões sociais como defesa dos animais, negociações com a prefeitura, melhoria da rua e outras para as quais não tínhamos tempo, agora podem ter nossa atenção e apoio. Até podemos ser síndicos de nossos prédios, coisa impensável na correria que era nossa vida.
Além disso existe mil oportunidades na internet para quem gosta de ler e estudar.
Comecei a aprender italiano e inglês, macramê e gastronomia. Pesquiso lugares maravilhosos no Brasil e no mundo que gostaria de conhecer. Se é mais caro, leva mais tempo, mas é tudo possível se for bem organizado. Como não temos a pressão do trabalho, podemos viajar quando tudo é mais barato, na chamada "baixa estação".
Como o dinheiro fica mais curto, fazer pesquisa de preço em supermercado e lojas vale a pena, e agora, temos tempo de sobra.
Para quem se aposentou por tempo de serviço e os filhos já estão crescidos, os netos serão um renovo de amor e felicidade.
Hoje, me preparando para o lançamento do meu novo romance, A Ascensão de Alice, me sinto revigorada, agitada e feliz. Eu encontrei o meu recomeço, demorou, mas encontrei.
Escrever mudou tudo para mim.
Deixo para você, meu caro leitor, as minhas dicas de aposentada:
Reinventem-se. Seja a pessoa que você sonhou ser. Aprenda novas coisas, seu cérebro é uma potência maior do que você imagina!

Ame, ame muito, derrame amor e simpatia, isso atrairá pessoas ótimas para perto de você!
Fique longe de gente que reclama de tudo, chorona e sem gratidão. Eles roubarão sua energia.
Fique mais longe ainda de gente falsa, briguenta e desleal. Esses te roubarão o que puderem.
Cerquem-se de plantas, animais e boa comida!
E crie a rotina de sempre ligar para seus amigos, os de perto e os de longe.
Amigos são um tesouro que guardamos para a velhice. Eles nos rejuvenescem, nos alegram e nos aquecem a alma.
Se sonhou em ser um galã ou atriz, faça teatro!
Se tem poucas companhias, viaje com uma boa agência de turismo. Elas acharão pessoas interessantes para você conhecer.
Se alongue, faça pilates, hidroginástica e dança!
Faça amigos, vizinhos, faça festas!
Reinvente-se! Agora você pode.