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O LADO OCULTO DO PARAÍSO

Há poucos dias conheci uma praia linda na Bahia. Mar límpido de todas as cores que o mar pode apresentar. Muitos coqueiros, areia branca. Um verdadeiro paraíso. A cidade, uma lindeza! Casas antigas com pinturas coloridas, um comércio onde se pode achar de tudo, muito artesanato interessante, além de pousadas maravilhosas. Caraíva é o nome desse paraíso.

No entanto, o turista que se interessar terá alguns desafios pela frente.

Os preços de qualquer coisa por lá são altíssimos!

Perguntando aos proprietários das pousadas o que inflacionava tanto o preço das bebidas e alimentos fiquei sabendo que o transporte até a pequena Caraíva era o vilão da história. Um dia, voltando da praia para um breve descanso, me deparei com o dono da pousada descarregando algumas carroças de burro. Isso mesmo. Carroças de burros. É o único meio de transporte que a pequena cidade permite cruzar suas fofas ruas de areia.

Para chegar a Caraíva, partindo de Porto Seguro, leva-se cerca de duas horas. O trecho final, de aproximadamente 30 quilômetros , é de terra, e dependendo da época do ano, um lamaçal .

O esforço em nome da preservação ambiental local seria até aceitável se não fosse o fato de que os donos de pousadas se dispuseram a doar carrinhos de golfe elétricos para cada um dos carroceiros. O pequeno veículo, não poluente, seria um opção que também atenderia o transporte dos turistas que passam por muita dificuldade para caminhar pelas ruas de areia fofa. A oferta não foi, até o momento, aceita pelos carroceiros, que ficariam responsáveis pela manutenção dos mesmos.

Outro fato interessante é que as ruas, pela mesma questão de preservação, não possuem iluminação pública. Os turistas iluminam com celulares os difíceis trajetos entre as pousadas e as ruas de comércio e bares, onde após chegarem suados, pagarão por um petisco simples como batata frita algo em torno de 90,00 reais e por uma latinha pequena de cerveja 15,00 a 17,00 reais.

Os passeios de bugue até praias próximas custam 110,00 reais por pessoa e são feitos exclusivamente pelas comunidades indígenas locais com preços tabelados. Mas se quiserem fazer o trecho por mar preparem o bolso para 250,00 reais por pessoa, preço que também não é negociado.

Lembrando que para chegar a Caraíva você precisará atravessar de canoa. Isso mesmo! De canoa. A travessia não leva mais que 5 minutos e custa 7,50 por pessoa.

Quando chegar fique atento ao que acontece no local. Fui informada na pousada que sempre que há alguma melhoria que os canoeiros ou carroceiros desejam alcançar eles simplesmente fecham os caminhos e ninguém entra ou sai da cidade.

Quanto ao saneamento básico, inexiste. As fossas septicas, pela mesma questão de transporte, não são nunca esgotadas o que significa um lençol freático contaminado. Eu fortemente sugiro beberem somente água mineral.

Em síntese, é um passeio caro e difícil, ideal para pessoas jovens que não se importam em fazer suas refeições lutando com as moscas ou caminhar no escuro numa areia fofa por longos trajetos.

A bela Caraíva não faz questão de receber pessoas com dificuldade de locomoção pois não há opções de transporte para as mesmas. Vi uma senhora com dificuldade solicitar carona, se propondo a pagar para que o carroceiro a levasse com a sua bagagem até o porto para embarque, o que foi categoricamente negado. Somente bagagens são transportadas pelas carroças.

O protecionismo de mercado das canoas, carroças, barcos e bugues, bem como a falta de opção de transporte interno, faz de Caraíva um destino para jovens e pessoas de melhor condição financeira. Até mesmo para quem leva crianças pequenas haverá muita dificuldade. Conversando com alguns moradores de Nova Caraíva, um vilarejo à beira do rio, fiquei sabendo que eles preferem levar as famílias para passeios em outras praias a quilômetros de suas casas, pelas mesmas questões que contei.

Protegida e excludente, o paraíso de Caraíva precisará se reinventar se quiser permanecer no mapa do rico turismo bahiano. É inegável o envelhecimento da população brasileira, como também é inegável que pessoas de melhor condição financeira geralmente fazem parte da população acima dos 50 anos. Seguindo nessa linha protecionista e sub-desenvolvida, embora preservada, acabará sendo um passeio de aventura para poucos jovens ricos.



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